Supermercado em Batalha é suspeito de lavar R$ 7,4 milhões em esquema de corrupção
Ministério Público aponta uso de empresa piauienses como parte de rede criminosa ligada a desvio de recursos no DF
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) investiga um sofisticado esquema de corrupção que teria transformado a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) em um centro de repasse de propinas. No centro das suspeitas está um servidor da estatal, F.J.C., que, segundo o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), utilizou membros da própria família, empresas de fachada e recursos em espécie para movimentar milhões de reais em operações fraudulentas.
Entre os alvos das apurações está um supermercado localizado em Batalha, apontado como instrumento de lavagem de dinheiro. O “O De Casa”, de propriedade de M.B.M., esposa do servidor investigado, teria recebido mais de R$ 7,4 milhões em depósitos em espécie em pouco mais de um ano – valor considerado incompatível com o porte da empresa e com a economia do município, que possui cerca de 26 mil habitantes.
Família no centro do esquema
As investigações mostram que F.J.C. operava um núcleo financeiro familiar. Suas irmãs teriam movimentado juntas cerca de R$ 935 mil em propinas. Mensagens obtidas pelo Gaeco revelam que o servidor controlava de perto as operações. “Faz um pix de 10 mil”, ordena ele em uma das conversas. Em outra, repreende a irmã por mencionar nomes em transações suspeitas: “Não precisa falar nome!!”.
Já a esposa, além de ceder contas bancárias para movimentar recursos, teria usado o supermercado como fachada para a lavagem dos valores desviados da Novacap. Os registros do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificaram depósitos vultosos em espécie, que ultrapassam em muito os parâmetros esperados para estabelecimentos do tipo na região.
Carro como cofre e notas frias
Além do uso de famíliares e de um comércio local, o esquema também utilizava práticas clássicas de lavagem de dinheiro. Códigos como “vamos tomar um café” ou “entregar documentos” eram usados para marcar encontros com propósito de repassar propinas.
Em um dos casos mais emblemáticos, F.J.C. enviou a imagem do porta-malas do seu Toyota Corolla como local para a entrega de dinheiro. Na operação “Alta Conexão”, realizada pelo Gaeco, foram encontrados R$ 329 mil em espécie na residência dele.
O grupo também operava através de empresas fantasmas. A DM & Castro Engenharia, registrada em nome do servidor A.R.C., foi usada para emitir notas fiscais frias e receber valores de empreiteiras. A empresa, sediada na própria residência de A.R.C., abriu conta bancária sete dias antes de receber R$ 69 mil. Segundo o MPDFT, o caso configura uso deliberado de firma de fachada.
Tráfego de influência na política
Para manter o fluxo de recursos, a organização criminosa se infiltrou em esferas do poder legislativo do Distrito Federal. Ivoneide Souza Machado Andrade Oliveira, então secretária da Comissão de Economia, Orçamentos e Finanças (CEOF) da Câmara Legislativa do DF, é apontada como elo político do esquema.
Conhecida como a “25ª deputada” devido à sua influência, Ivoneide liberava emendas parlamentares que financiavam contratos fraudulentos da Novacap. Em troca, recebia “presentes” e auxílio financeiro. Em uma das mensagens, pede “socorro” de R$ 15 mil, lembrando de uma ajuda anterior para uma viagem a Miami. No dia seguinte, ela encaminhou a liberação de R$ 1,2 milhão para a Novacap.
Corrupção sistêmica
O MPDFT classifica o esquema como um exemplo de corrupção sistêmica. Para os promotores, F.J.C. operava como um chefe mafioso, articulando parentes, empresas, políticos e servidores em uma rede coordenada de desvio de recursos públicos.
A investigação segue em andamento para identificar todos os beneficiários e o destino final dos valores. A Novacap, o supermercado citado e os demais mencionados na investigação têm espaço aberto para eventuais manifestações.
Fonte: Diário de Caraíbas
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